sábado, 8 de março de 2008

Sida no Mundo, Portugal e na Madeira - Dia Mundial da Mulher



Jornal da Madeira / 1ª Página / 2008-03-08
Machado Caetano critica a forma como o governo trata esta área
«A saúde pública está doente em Portugal»
Há 20 anos, apenas um terço dos adultos com VIH eram mulheres. Hoje em dia, elas já são quase a metade dos infectados. Há mais mulheres que homens infectadas nas Caraíbas e África Subsariana. A infecção feminina está a aumentar na Ásia, Europa do Leste e América Latina. Portugal está na cauda da Europa no que respeita a números de casos referenciados e que aumentam em vez de diminuirem como já aconteceu [com sucesso) na Espanha e na Suíça. São dados assustadores e que revelam que a grande parte da população pode estar “informada” mas não “educada” para a prevenção da Sida, como explica o médico Machado Caetano que hoje vai ser orador numa palestra subordinada ao tema “Prevenção da Infecção VIH/Sida nas jovens e nas mulheres”, no Colégio dos Jesuítas, no Funchal.Professor catedrático da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Nova de Lisboa e Presidente da Fundação Portuguesa “A Luta Contra a Sida”, Machado Caetano entende que este flagelo não passa só pela informação mas sobretudo pela educação das pessoas. É neste sentido que o médico não poupa críticas à forma de como o governo português gere a saúde pública, comparando, por isso, Portugal com outros países da Europa, nos quais, desde que foram notificados os primeiros casos de Sida [início dos anos 80] têm trabalhado de forma surpreendente a problemática da transmissão deste vírus mortal.«Nós somos um povo escapatoriamente informado, contudo, não somos um país educado», refere o médico, dando um exemplo curioso a respeito da razão porque está Portugal na cauda da Europa nesta questão.«A Suíça tinha há cerca de 15 anos, uma das mais elevadas taxas de toxicodependência e de infecção do VIH. Neste momento, este país tem um dos índices mais baixos da Europa. E Porquê? Porque um país que aposta na educação maciça colhe os seus frutos a curto prazo. Em Portugal, isso não acontece. A razão, a meu ver, pretende-se também com o facto da Sida estar associada à riqueza. Se um país é pobre terá, com certeza, mais casos de VIH. Eu costumo dizer que “A Sida afecta cada vez mais os países pobres e os pobres dos países ricos”. É uma relação que eu costumo estabelecer e, infelizmente, é uma realidade».Portugal ainda é «o pior em tudo»É neste sentido que o professor afirma que «é pela falta de uma melhor educação que o nosso país é o pior em tudo. É aquele com mais taxas de abortos, que mais jovens tomam a pílula do dia seguinte e que têm gravidezes indesejadas, é também aquele com mais taxa de Hepatite C, Cirrose Hepática, Tuberculose, Toxicodependência e Sida. Como podemos constatar, a nossa saúde pública em Portugal está muito doente» afirmou, acrescentando que é preciso «agarrarmos nos responsáveis e que são, em primeiro lugar a família, em segundo lugar a escola e em terceiro lugar a sociedade civil, que inclui as instituições não-governamentais e governamentais, como é o caso das autarquias para travarmos uma epidemia como a Sida». Machado Caetano afirma que as autarquias, bem como a comunicação social, são as restantes “forças” que exercem um papel fundamental na prevenção desta doença. «As autarquias, por serem os grandes responsáveis por grande parte da actividade social e educacional das populações, devem assumir o papel de formadoras. A comunicação social, por ser absolutamente indispensável na divulgação da informação».De salientar que na palestra de hoje (com início marcado para as nove horas da manhã), o médico referiu que vai abordar a questão da Sida nas várias “etapas” da mulher, isto é, enquanto jovem, mãe, educadora e parceira sexual. Como referiu, a educação, para além da formação, continua a ser a melhor “vacina” para prevenir o vírus do VIH.Sida atinge cada vez mais os jovens, seniores e mulheres, sendo que em Portugal estão referenciados 32 mil casos de Sida desde 1983Machado Caetano diz que, quando o assunto é “dividir” os infectados com o vírus da Sida por grupos, existem, cada vez mais, três grupos que se destacam. «Hoje em dia, os dados que temos são que há cada vez mais jovens a serem infectados com o VIH; há cada vez mais seniores a sofrerem com esta doença e depois há cada vez mais mulheres infectadas, ao contrário daquilo que se registava há alguns anos a esta parte. Entre nós (portugueses) esse fenómeno também se verifica. Actualmente e desde o início da epidemia (que começou a ser referenciada em 1983) nós temos entre nós 32 mil casos de pessoas infectadas, muitas delas mulheres. O pior, é que muitos dos casos referenciados são sobre mulheres grávidas e no momento do parto. Uma situação dramática e que vem duplicar o problema em termos de tratamento», frisou o médico.

Lucia Mendonça da Silva

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