terça-feira, 11 de março de 2008

Madeira - Recolha de seringas aumenta 19%


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Madeira
Recolha de seringas aumenta 19%
As farmácias da Nazaré e Camacha trocaram, em 2007, mais do dobro de seringas face a 2006.
Data: 11-03-2008

Em 2007 foram recolhidas mais de 150 mil seringas na Região no âmbito do programa 'diz não a uma seringa em segunda mão', o que representa um aumento de mais de 29 mil seringas face a 2006.

Os dados fornecidos ao DIÁRIO pela Associação Nacional de Farmácias (ANF) mostram que este aumento global de 19 por cento reflecte sobretudo os elevados valores registados, no ano passado, na farmácia da Camacha e na da Nazaré.

Se em 2006 a farmácia da Nazaré recolheu/trocou 4.240 seringas, em 2007 esse valor ascendeu a 10.400, o que representa um aumento de 59%. Já na farmácia da Camacha, passamos de 6.620 seringas em 2006, para 15.240, no ano transacto, um aumento na ordem dos 57%.

"É possível que nesses núcleos habitacionais exista alguma concentração deste tipo de problemáticas", justificou Paulo Sousa, presidente da secção regional da Ordem dos Farmacêuticos, acrescentando que estes valores correspondem a um 'retrato' de uma sociedade onde está a aumentar o número de toxicodependentes.

Na opinião de Paulo Sousa, a grande maioria dos toxicodependentes está sensibilizado para este programa de trocas que, na entrega de duas seringas usadas, permite receber um 'kit' composto por duas seringas estéreis, dois toalhetes embebidos em álcool a 70 graus, um preservativo, uma ampola de água bidestilada, um filtro e um folheto informativo que visa prevenir comportamentos de risco face à transmissão da Sida e das hepatites.

Farmácias resistem a aderir ao programa, na Região

Segundo os dados oficiais, apesar do aumento das seringas trocadas na Região, o número de farmácias que aderiram ao programa tem vindo a diminuir. Em 2006 eram 37, enquanto que no ano transacto já eram apenas 32. O DIÁRIO fez uma ronda por algumas farmácias das principais ruas do Funchal e constatou que são poucas as que, no momento, estão a trocar as seringas usadas. São apenas 16 no Funchal, diz a ANF.

A má experiência com os toxicodependentes, que são agressivos ou mal-educados com os clientes, é apontada por diversos farmacêuticos como a principal razão da desistência do programa. Segundo estes técnicos é comum os toxicodependentes chegarem com um 'magote' de seringas na mão, depositá-lo sobre a mesa, para serem os primeiros a ser atendidos. Não aguardam pela sua vez, 'atropelando' os outros clientes. "Têm pressa, como se fossem apanhar o autocarro", constatou uma farmacêutica.

A criação de um local próprio, fora das farmácias, para proceder à troca das seringas, é uma opinião unanimemente defendida pelos farmacêuticos ouvidos pelo DIÁRIO. "Este é um serviço gratuito e eles não respeitam", referiu outro técnico de farmácia, "não entenderam que a farmácia é privada, não é um centro de saúde", acrescentou.

Na farmácia do Chafariz, este programa está a meio gás. "Ás vezes aceitamos as seringas, mas já desde 2003 que não temos 'kits'", disse Cristina Vieira. A farmacêutica explicou que durante o fim-de-semana, quando são poucas as farmácias abertas, os toxicodependentes entram nesta farmácia para deixar as seringas e, na ausência de 'kits', optam mesmo por comprar seringas de insulina. Segundo esta farmacêutica, no Funchal, só se troca seringas na farmácia de Santo António, na Luso Britânica e na da Nazaré.

Apesar de existirem outras farmácias, estes são os locais mais conhecidos pelos toxicodependentes. "Estão habituados a ir trocar a estes sítios", disse o presidente da secção regional da Ordem dos Farmacêuticos, justificando o maior fluxo de trocas nestes locais.

Paulo Sousa sublinha que este programa tem de ser entendido na óptica do serviço público das farmácias e não do ponto de vista comercial. "Apesar de três ou quatro situações pontuais, onde pode não existir a troca, estou convencido que mais de 90% das farmácias a fazem", disse. "Há trocas em quase todos os concelhos da Região", assegurou.

Só pelo facto de contribuir para retirar as seringas das ruas, e para evitar a sua partilha entre toxicodependentes, e consequentemente o possível contágio da Sida e das hepatites, Paulo Sousa está convencido que esta campanha vale a pena.

Programa 'diz não a uma seringa em 2ª mão'

O programa, criado em 1993, visa sobretudo a redução do número de seringas abandonadas pelas ruas, e evitar a partilha de seringas usadas entre os toxicodependentes, prevenindo assim a propagação de doenças como a Sida e as hepatites.

O perigo que representa uma seringa abandonada num jardim público é a principal preocupação de Paulo Sousa, presidente da secção regional da Ordem dos Farmacêuticos. As crianças não sabem o que é uma seringa, "acham muito giras, coloridas e cor-de-laranja, e podem se picar", referiu, acrescentando que "ela não faz a mínima ideia do risco de contágio de doenças que corre".

Não se trata de incentivar o consumo de drogas, cedendo gratuitamente os kits, como muitas pessoas pensam, explicou Paulo Sousa, mas sim 'limitar' os riscos de contágio e evitar problemas maiores.

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