"Vivemos a fantasia de que somos inatingíveis"
A chave para a luta contra a sida continua a ser a prevenção. Na região há 378 casos
Data: 01-12-2008
As campanhas repetem-se mas o número de casos está lá, firme e com tendência crescente. A ideia de que a sida "só acontece aos outros" continua a persistir, daí que "o grande chavão para esta doença continue a ser a prevenção". Para a coordenadora da delegação regional da Abraço, Cristina Gouveia, "a responsabilidade de diminuir os casos de sida é individual". "Vivemos um pouco a fantasia de que somos inatingíveis", alerta. A Abraço apoia, na Região, cerca de 200 pessoas, de entre as quais 64 crianças e 42 agregados familiares. "O projecto com as crianças é muito completo e feito em ligação com as escolas", explica. Muitas delas passam várias horas diárias na associação, almoçam, jantam, desenvolvem actividades. Contudo, como refere Cristina Gouveia, "a Abraço não tem uma idade limite" de apoio. "O nosso 'abraço' não se fecha", atira. A discriminação ainda persiste, mas com menos força do que no início da actividade da instituição. "Podemos dizer que as pessoas estão mais sensibilizadas, mais informadas, de um modo geral, mas continuam a assustar-se muito", frisa, referindo-se à rápida associação de que "a sida é morte". "As pessoas continuam a ter dificuldade em entender que a sida é uma doença que caminha, cada vez mais, para um estado de cronicidade como tantas outras e que as pessoas, desde que tenham cuidados, podem estar integradas na sociedade", aponta. Ao contrário dos primórdios da doença, em que era facilmente 'colada' à prostituição, aos toxicodependentes e aos pobres, a sida agora é "de todos". "É uma doença democrática que, sendo de comportamentos, pode dar num pobre coitado como num senhor advogado ou engenheiro, com muito bom ar e aspecto, porque não está escrito na testa das pessoas", alerta. O mais que apelado uso do preservativo continua a ser recorrente em todas as campanhas que desenvolvem. Na vida sexual, este método contraceptivo não pode ser descurado. "A sida tem este lado 'bom', no sentido em que é muito fácil nos prevenirmos", sublinha, acrescentando que, "havendo cuidados, é uma doença controlada". 378 casos registados na Região Desde Janeiro de 1983 até Dezembro do ano passado, a Região tem registados 378 casos. Segundo Cristina Gouveia, a sociedade continua a "fechar os ouvidos à realidade do que é a sida". "Pelos conhecimentos que vou tendo, sinto que há pessoas que foram tramadas ou foram apanhadas por algo que foi construído por elas próprias, como preconceitos e pressupostos errados, por isso vamos esperar que estes números não aumentem", frisa. Porém, segundo a psicóloga, há cada vez mais registos de novos casos em segmentos antes não identificados, como em idosos. "Em Portugal, houve aparecimentos na casa dos 40, relacionados com práticas sexuais não protegidas", aponta, garantindo que tal se baseia no facto de a sexualidade ainda constituir um tabu bem presente na sociedade, bem como o uso do preservativo em determinadas faixas etárias. "Se as pessoas perceberem que a sida, havendo comportamento de risco, pode chegar a qualquer pessoa e que implica um comportamento preventivo da pessoa em relação a si própria, esses números não aumentam", atira, acrescentando que "a responsabilidade de protecção não é do outro, mas de cada um".Apoios precisam-se"Continuamos sem apoios". A casa que a Abraço utiliza na Rua da Carreira, cedida pelo Governo Regional, continua por melhorar, visto que não se encontra em boas condições. "Já é o terceiro Natal em que o pedido da Abraço continua a ser o mesmo ao Pai Natal, que é uma nova casa para as crianças, onde elas possam crescer, estudar e aprender a viver para um dia serem cidadãos com civismo", frisa a psicóloga. Estudo sobre o medo da SIDA na população- A maioria dos portugueses acredita que o medo da sida pode ser uma barreira para o diagnóstico, revela um estudo pioneiro realizado em Portugal; - Um em cada três portugueses conhece uma pessoa seropositiva; - 43% considera que a sida é a segunda doença mais grave em Portugal, logo a seguir ao cancro; - O medo e a injustiça são os sentimentos que a sida mais gera; - 24% referem que os portadores do vírus da sida são um dos grupos mais discriminados na sociedade; - 93% consideram que as pessoas com sida são discriminadas e só 37% consideram que a discriminação tem diminuído em Portugal; - Metade da população inquirida tem receio em fazer testes para diagnóstico da sida, por vergonha.
Zélia Castro
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